A Terapia Ocupacional e a Integração Sensorial
A Terapia Ocupacional (TO) é uma profissão da área da saúde que tem como principal objetivo potencializar as capacidades necessárias para a participação funcional nas diferentes atividades da vida diária (Dec-Lei nº564/99, de 21 de Dezembro).
O TO avalia e intervém nas competências sensoriais, percetivas, motoras, cognitivas, emocionais e comportamentais da criança necessárias à sua autonomia nas atividades da vida diária (vestir, alimentação, higiene), académicas, no brincar e na relação com os outros bem como nos fatores ambientais que influenciam o seu desempenho nas diversas atividades. É através de uma cuidada avaliação que identifica as áreas de ocupação que estão comprometidas e envolve a criança e família num plano de intervenção individualizado (AOTA, 2008).
No centro MaisPessoa esta valência conta com a especialização em Integração Sensorial.Em Portugal,esta é uma abordagem utilizada por terapeutas ocupacionais e deve ser realizada por técnicos com formação específica.
A Integração Sensorial foi originalmente estudada pela Dr.ª Jean Ayres, terapeuta ocupacional e psicóloga educacional que desenvolveu um modelo teórico, um conjunto de testes estandardizados e uma abordagem clínica para a identificação e tratamento dos problemas de Integração Sensorial nas crianças (Serrano, 2016).
A Integração Sensorial é um processo neurológico caracterizado pela organização das sensações para uso (Ayres, 2005). Recebemos informação do ambiente através dos nossos recetores sensoriais: os sistemas auditivo, tátil, visual, olfativo e gustativo. Consideramos ainda dois sentidos menos conhecidos, a proprioceção (posição do corpo) e o sistema vestibular (controlo do movimento). Todos os sentidos trabalham em conjunto para formarem uma representação íntegra do que se passa à volta da criança (Faure & Richardson, 2004). Esta informação é depois conduzida ao sistema nervoso central (SNC), onde é registada e interpretada, para que o corpo produza uma resposta. A integração sensorial permite que o indivíduo produza respostas adequadas e adaptativas a situações quotidianas (Ayres, 2005).
De referir que a capacidade da criança processar e integrar a informação sensorial é determinante no seu desenvolvimento e na sua participação ao nível das atividades de vida diária, do brincar, do lazer, da participação social e da aprendizagem (Ayres, 2005; Schaaf & Miller, 2005; Schaaf & Nightlinger, 2007).
No desenvolvimento normativo, o processo de integração sensorial desenvolve-se automaticamente, quando o indivíduo recebe as informações dos sentidos. Este processo ocorre desde a nascença e durante a infância através de experiências sensoriais, que vão sendo integradas (Ayres, 2005). Deste modo, os primeiros 7 anos de vida são chamados de anos de desenvolvimento sensoriomotor. Se os processos sensoriomotores estão bem organizados, a criança aprenderá mais facilmente competências mentais e sociais mais tarde (Ayres, 2005).
“Ler, escrever e fazer contas…são processos extremamente complexos que apenas se conseguem desenvolver se baseados num forte “alicerce de integração sensorial” (Ayres, 2005).
No entanto, para outras crianças, a integração sensorial não se desenvolve tão eficazmente como deveria e, nestes casos, um sem-número de problemas no desenvolvimento, na aprendizagem ou no comportamento podem tornar-se evidentes às famílias e educadores (Ayres, 2005). Assim, ocorrem disfunções de processamento de integração sensorial quando as crianças evidenciam dificuldade na receção adequada da informação sensorial dos diferentes sistemas e das experiências que necessitam para aprenderem e se desenvolverem (Coll, Miller & Shoen, 2007). As crianças podem ter dificuldade em regular o grau, a intensidade e a natureza das respostas do input sensorial comprometendo a sua plena participação nas atividades da vida diária, tais como o brincar, a alimentação e a interação social com os outros (Dunn, 1997 citado por Schaaf & Nightlinger, 2007; Miller, 2006).
Nesta abordagem, os terapeutas ocupacionais trabalham com as crianças principalmente através de brincadeiras (Serrano, 2016). O brincar é a ocupação central nos primeiros anos de vida (Schaaf & Roley, 2006) e é essencial pois proporciona uma série de respostas adaptativas que fazem com que a integração sensorial ocorra e a criança aprenda a organizar o seu brincar e a lidar com as exigências do meio (Ayres, 1972).
Durante as sessões são selecionadas atividades variáveis e experiências sensoriais terapêuticas cuidadosamente selecionadas que em conjunto com a interação física, são usadas para promover a integração sensorial, de forma a melhorar a aprendizagem e o comportamento (Ayres, 2005).
Estas atividades terapêuticas vão desafiar a criança a desenvolver e melhorar as capacidades necessárias para poder atingir o seu potencial máximo nas seguintes áreas: motricidade global, motricidade fina, competências grafomotoras, competências de perceção visual, processamento e integração sensorial, planeamento motor, funções motoras orais, competências para as atividades da vida diária (vestir, despir, comer, banho), organização da atenção e do comportamento, brincar e socialização (Serrano, 2016).
Diana Rodrigues Lima
Terapeuta Ocupacional, com especialização em Integração Sensorial
Referências bibliográficas:
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Assembleia da República (VIII Legislativa) (1999). Decreto-Lei nº 564/99 de 21 de Dezembro. I Série A: Estabelece o estatuto legal da carreira de técnico de diagnóstico e terapêutica. Diário da República.
Ayres, J. (1972). Sensory integration and learning disorders. Los Angeles: Western Psychological Services.
Ayres, J. (2005). Sensory integration and the child (25 th anniversary ed.). Los Angeles: Western Psychological Services.
Coll, J., Miller, L. & Schoen, S. (2007). A randomized controlled pilot study of the effectiveness of Occupational Therapy for children with Sensory Modulation Disorder. The American Journal of Occupational Therapy, 61(2), 228 – 238.
Cosbey, J., Johnston, S. & Dunn, M. (2010). Sensory processing disorders and social participation. American Journal of Occupational Therapy, 64, 462-473.
Faure, M., Richardson, A. (2004). Os sentidos do bebé: Compreender o Mundo sensorial do bebé. A chave para uma criança feliz. Lisboa: Livros Horizonte.
Miller, L. (2006). Sensational Kids – Hope and Help for Children with Sensory Processing Disorder. New York: PERIGEE.
Schaaf, R. & Miller, J. (2005). Occupational therapy using a sensory integrative approach for children with developmental disabilities. Mental Retardation and Developmental Disabilities Research Reviews, 11, 143-148.
Schaaf, R. & Nightlinger, K. (2007). Occupational therapy using a sensory integrative approach: A case study of effectiveness. American Journal of Occupational Therapy, 61, 239-246.
Schaaf, R., & Roley, S. (2006). Sensory integration: Applying clinical reasoning to practice with diverse populations. Austin, Texas: prod.ed. An international publisher.
Serrano, P. (2016). A integração sensorial : no desenvolvimento e aprendizagem da criança. Lisboa: Papa-letras.
World Health Organization. (2001). International Classification of Functioning and Disability. Geneva: WHO.
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