PSICOLOGIA – NEWSLETTER 02

Aprender a educar na era tecnológica

“Ensinar-te-ei uma receita para fazer-te amar sem drogas nem ervas nem versos mágicos de bruxa; se quiseres ser amado, ama.” (Hecatão)

Costumo começar a pensar sobre algum tema, pesquisando a sua origem etimológica, pensando sobre a origem das palavras. A palavra educar, do latim EDUCARE, era composta por ex (fora) e ducere (guiar, conduzir), pensando a educação como levar uma pessoa para fora de si mesma, mostrar o que mais existe além dela. Na minha perspetiva, o educador apoia o descobrir de novos horizontes mas ele é um guia cego, isto é, um guia que também vai apreendendo o que vê pelos olhos do seu educando. Ele não vê o horizonte futuro da descoberta e possui uma chave ou uma doutrina que ensina ao educando mas tenta, sim, ouvir, ver, pensar, com os sentidos deste último e, dessa forma, dar-lhe pistas de orientação, colocar questões que o façam descobrir, num espírito de responsabilidade individual e liberdade. Mas, por contraditório que pareça, a liberdade só é possível se existir uma estrutura definida e clara que a comporte, que permita que ela se movimente. As regras, os horários, as práticas que os educadores decidem aplicar funcionam como chão para quem está a aprender a voar. Este jogo entre a estrutura, as regras exigidas, e o espaço de liberdade individual, é como uma dança fluída que se vai alterando.

Quanto à palavra tecnologia, ela deriva do grego TEKHNE, (relativo à arte, aos trabalhos de artesão) e LOGOS, (estudo, tratado, palavra). Assim, tecnologia pode ser vista como o estudo relativo a uma arte. Parece-me que este sentido está afastado do que hoje lhe atribuímos globalmente, isto é, dispositivos que adquirimos para a nossa prática diária como telemóveis, computadores, máquinas de lavar. Tecnologia associada às máquinas e a uma era digital. Mas a tecnologia existe pelo menos desde que o homem começou a pensar a sua relação com os instrumentos, a desenvolver um fazer em relação com os instrumentos. Instrumentos que podem ser um martelo, uma pedra, um computador, um lápis.

Podemos demonizar os instrumentos e ver o seu potencial negativo, mas penso que o que urge pensar e valorizar é que decisões tomamos na nossa relação com os instrumentos e se pensámos sobre o papel que eles desempenham na nossa vida.

Perguntas para o educador pensar: Perguntas sobre o educando:

( a partir de Parenting in the Digital Age, de Dr. Kimberly S. Young , em Netaddiction.com)

  • Estou atento às práticas do meu educando com as tecnologias? Ele usa tecnologias à noite? Como e quando?
  • Que espaço estou a dar ao meu educando para ele ver com os seus olhos? Que apoio lhe posso dar?
  • Defino regras claras sobre o uso das tecnologias? Como falo com o meu educando sobre isso?
  • Como eu próprio me relaciono com as tecnologias? Para que as uso e como? Como me sinto depois de aceder à internet? Como está o meu corpo? Deixo de fazer coisas que considero importantes na minha vida devido ao tempo gasto com as tecnologias?
  • Disponibilizo tempo para conversar e ouvir o meu educando?
  • Uso a tecnologia como reforço ou para acalmar o meu educando?
  • Não consegue diminuir ou parar de usar a tecnologia quando se propuseram a isso?
  • Preocupa-se com o uso da tecnologia? Fica a pensar sobre a actividade prévia ou antecipa a próxima actividade?
  • Sente-se mal disposto, depressivo ou irritado quando deixa de usar a tecnologia ou se tenta diminuir a frequência?
  • Usa mais tempo a tecnologia que o previsto inicialmente?
  • Ficam as relações sociais e o rendimento escolar afetados pelo uso da tecnologia?
  • Mente sobre os usos da tecnologia?
  • Descura outras actividades prazeirosas?
  • Tem sintomas físicos: dores de cabeça, perda ou ganho de peso, dores de costas, dificuldades no sono?
 

Efetivamente Portugal está em 2.º lugar no ranking de 25 países europeus no consumo e acesso à Internet. Um estudo de Ivone Patrão sobre dependência online com uma amostra de 3000 jovens conclui que em média passam 6 horas por dia online. É de salientar que o Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria em Lisboa tem, desde 2014, um Núcleo de Utilização Problemática de Internet. A dependência da Internet não consta como perturbação mental no DSM-V: Diagnostic and Statistical Manual for Mental Disorders, Fifth Edition mas pode constar no appendix da próxima edição.

Os critérios diagnósticos propostos para esta nova categoria estão relacionados com um comprometimento no plano social, familiar e profissional, por um uso preferencial e às vezes exclusivo da Internet sobre as outras atividades e uma incapacidade de controlar o número de horas de uso de Internet, com uma tendência a ter sensação de tristeza, ansiedade e mal-estar quando não está on-line.(Goldberg,1996; citado em http://www.polbr.med.br/ano98/dpnet.php).

Como educadores podemos previligiar a intervenção não pelo medo mas pela responsabilidade, consciência e contacto. Desenvolver a consciência dos momentos em que nos relacionamos com as tecnologias e onde dizemos: “Já nem penso se faço isso ou não. É automático”. Promover o diálogo, a compreensão e a escuta. Muitas vezes as crianças interpretam perguntas sobre o seu comportamento como crítica ou culpabilização. Assegure ao seu educando que não o condena mas que está preocupado com algumas mudanças do seu comportamento (ex. cansaço, deixar de fazer actividades que gostava, estar mais sozinho.) Tente chegar a um acordo sobre o tempo que se dedica às tecnologias e a que actividades. Tente perceber quando a tecnologia funciona como ilusão ou escape e proteção e ajude o seu educando a sair da sua zona de conforto e a enfrentar os desafios da vida, educando para a coragem de se descobrir.


 

Vânia Ribeiro

Psicologia e Hipnose Clínica em Maispessoa

(para mais informações visite http://maispessoa.pt)


 

FOCO

Para se informar sobre comunicar em segurança, visite: http://comunicaremseguranca.sapo.pt/tag/dicas

Para aceder gratuitamente ao Livro de Atividades sobre Segurança na Internet – Pré-escolar e 1.º Ciclo, visite: http://www.seguranet.pt/pt/recurso/livro-de-atividades-sobre-seguranca-na-internet-pre-escolar-e-1o-ciclo

 

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